quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Contos espalitados



Olá fiéis paliteiros. Faz tempo que não posto nada aqui mas não desisti do blog, só estava em um lugar com internet estupidamente ruim.
O bom disso tudo é que consegui finalmente acabar um capítulo da história que estou escrevendo. \o/

E para comemorar vou postar aqui um conto que acho muito legal do Luís Fernando Verissimo.
Ele é bem curto e acho que vocês vão gostar.





Sozinhos

Luis Fernando Veríssimo

Esta idéia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava dita, não adiantava mais.
Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a idéia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada.

É assim:
Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já criaram os filhos, os netos já estão grandes, só lhes resta implicar um com o outro.
Retomam com novo fervor uma discussão antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme ele diz que é mentira.
- Ronca.
- Não ronco.
- Ele diz que não ronca – comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa.
Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar e sai cedo. Ficam os dois sozinhos.
- Eu devia gravar os seus roncos, para você se convencer – diz ela. E em seguida tem a idéia infeliz. – É o que vou fazer! Esta noite, quando você dormir, vou ligar o gravador e gravar seus roncos.
- Humrfm – diz o velho.
Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a cama.
Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pouco depois a fita acaba.
Na manhã seguinte, certa d seu triunfo, a velha roda a fita.
Ouvem-se alguns minutos de silêncio. Depois, alguém ronca.
- Rarrá! – diz a velha, feliz.
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa, a velha também ronca!
- Rarrá! – diz o velho, vingativo.
E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio – por causa dos roncos – não se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vão ficando claras. São duas vozes. É um diálogo sussurrado.
“Estão prontos?”
“Não, acho que ainda não...”
“Então vamos voltar amanhã...”

E aí paliteiros, gostaram?
Particularmente acho este conto muito legal, é um dos melhores contos de terror que já li e é bem curto e simples. Muito legal hehe
Até a próxima.

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